Sobrinha diz que a filha da vítima é quem viu primeiro e os parentes chegaram até a achar que ela estava "transtornada", mas, se aproximaram e viram que era verdade
Ao chegar para o velório, na manhã desta sexta-feira (2), em Campo Grande-MS, a família da dona Isaura Santos da Conceição, de 72 anos, descobriu que o caixão foi trocado. Segundo a sobrinha da vítima, Roseane dos Santos Rocha, de 40 anos, não só houve a troca do corpo, como também das flores e roupa, "escolhida a dedo", segundo ela, para ser colocada na idosa.
O velório estava previsto para iniciar às 7h30 (de MS). Meia hora antes, segundo Roseane, os parentes já estavam no cemitério Memorial Park, no bairro Universitário, local previsto também para o enterro, já que a vítima faleceu de Covid e o procedimento tinha pouco tempo de duração.
"Nós estávamos todos lá, dentro da capela: sobrinhos, filhos, tios, a família toda. Ficamos aguardando o corpo quando minha prima foi na frente. Ela é a filha da Isaura. A funcionária abriu e, na hora, ela falou: 'Essa aí não é a minha mãe'. Nós até pensamos que ela estava meio transtornada, mas, fomos lá e vimos que era verdade. Minha prima, meu tio, choraram muito. Você já está na dor da perda e ainda chega o corpo errado, é um transtorno", disse ao G1 Roseane.
Ainda conforme a sobrinha da idosa, os parentes então se deslocaram até o escritório da funerária e pediram esclarecimentos. "Os funcionários tamparam o caixão novamente e nós fomos lá ver o que tinha acontecido. Fizemos tudo o que minha tia gostava, escolhemos a roupa a dedo e compramos até as flores importadas que ela gostava. Só que fizeram tudo em outra pessoa", comentou.
Em seguida, a família retornou ao cemitério e o corpo da dona Isaura chegou por volta das 10h. "Agora minha tia chegou. Tiraram a roupa da outra senhora e agora colocaram certo. Nós nem ficamos sabendo o que aconteceu com a outra família, se eles souberam do que aconteceu. Só que nós decidimos denunciar porque corria o risco dela ser enterrada, caixão lacrado, e a gente nem saber. É algo que inclusive pode acontecer em outros casos, ainda mais quando falam que não pode abrir", lamentou.
A reportagem entrou em contato pedindo para falar com os responsáveis pela funerária. Um gerente nos informou que "houve um equívoco na questão da capela, porém, os familiares que estavam exaltados foram acalmados" e a questão foi resolvida. Em seguida, nos disse que outro gestor iria entrar em contato para dar mais explicações, mas, até o momento ele não retornou as ligações.
O diretor da empresa que presta serviços funerários em Campo Grande, Ramses Ferreira, de 54 anos, também conversou com o G1.
"Nós é quem pegamos o corpo e fizemos a preparação da dona Luzia e da dona Isaura. Não quero minimizar nada. Ocorreu um erro. Antes da pandemia, fazíamos um checklist com a família, só que isso não foi mais possível. Hoje nós trabalhamos só com documentação, com papéis. Neste caso, o corpo das duas senhoras chegaram no mesmo horário. Elas possuem semelhança física, idades parecidas e houve erro do nosso funcionários. A partir daí, resolvemos toda a situação", comentou.
Ferreira também lamenta o ocorrido. "Pedimos mais uma vez desculpa para a família e dizemos que estamos lidando com um percentual muito maior, o dobro de corpos. Nós somos muito fiscalizados em relação a biossegurança. Não misturamos administrativo com laboratório. A família é proibida de entrar aqui e estamos lidando com a questão burocrática. Agora sobre os caixões lacrados, isso não existe, há uma verificação antes. Agora, chegando juntos, como foi este caso, precisamos ter mais atenção. Nós lamentamos, pedimos desculpa. Temos 40 anos de trabalho em Campo Grande, isso não minimiza, mas, essa questão do checklist nos prejudicou neste momento", finalizou.