Fazenda de Goiás mostrou que, além de ajudar o meio ambiente, a gestão dos resíduos virou lucro no bolso do pecuarista
Em reportagem da Rota do Boi exibida no Giro do Boi em outubro, a visita ao Confinamento MP, em Formosa, estado de Goiás, mostrou que o mais que respeito ao meio ambiente e à legislação, a gestão dos resíduos virou economia e lucro.
A propriedade do pecuarista Mário Pintou venceu o desafio de aumentar a produção por unidade de área sem deixar de lado a preocupação com o meio ambiente e muito menos com a qualidade da carne produzida.
“Nós começamos aqui em 2001. Nós confinamos 300 bois em 2001 e, de lá para cá, a gente vem aumentando o confinamento. Hoje nós estamos fazendo acima de 40.000 animais, rodamos um pouquinho diferente às vezes porque nós rodamos 365 dias no ano, nós não paramos. Isso tem nos dado um diferencial”, apontou o empresário.
“Nós abatemos (os animais) em média acima de 20@ o abate do ano inteiro e vai aí até com animais de 23@ e 24@. Sempre animais jovens”, frisou.
Com até 30 meses de idade, os animais estão embarcando para o abate, mas não sem antes passar por um rigoroso processo de gestão e controle na central de monitoramento de operações.
“O pensamento de gestão, quando começou a se modelar esse controle, era para ter isso de forma online, detalhando o embarque de boi. Esse processo começa quando o caminhão chega na guarita, as informações de entrada são cadastradas, esse processo continua ao passar no balanção, é cadastrada a data e a hora, o peso desse caminhão vazio. O veículo desce para o confinamento, os animais são todos lidos no sistema de controle, onde é feita a conferência se os bovinos estão aptos para exportação, aptos para a Cota Hilton, se os controles sanitários desses animais estão todos ok, se este animal está apto a sair da fazenda. Continuando o processo, depois de embarcada a boiada, é formulada toda a parte de documentação do Sisbov. O processo continua na pesagem dos animais para a saída e finaliza lá em cima, quando eles saem da portaria. O processo tem várias pessoas envolvidas, todas elas fazendo suas atividades em tempo real e utilizando informática, câmeras e ferramentas que o mundo atual consegue nos fornecer”, detalhou o produtor Mário Pinto Junior.
Além de contar com consultorias que ajudam na gestão dos recursos humanos, a fazenda conta com ajuda externa para projetos de sustentabilidade que começou resolvendo a questão da geração de resíduos pelos animais em confinamento, mas atualmente gera economia em adubo e lucro em aumento de produtividade – e não só para a própria fazenda em Goiás.
“No confinamento, após a saída dos animais, a gente raspa esse esterco. Essa é uma prática comum em todo o confinamento. Isso deve feito até por questão de sanidade para o rebanho que está lá no confinamento. Esse material é trazido para cá e aqui a gente faz o trabalho com esse material, transformando ele de um esterco, que é uma matéria prima de baixa qualidade, de baixo potencial produtivo, em um adubo prontamente utilizado, com níveis de nutrientes estabelecidos e de grande potencial para a agricultura e para a pecuária”, explicou Ronárcio Barcelos, coordenador de projetos do confinamento.
Conforme explicou o repórter Marco Ribeiro, “no caso da pecuária, esse ganho de produtividade é muito interessante. O aumento na taxa de lotação é quase o triplo do que se consegue colocar em áreas normais. No caso da agricultura, isso também é muito expressivo. As reduções nos custos com as adubações podem chegar à casa dos 50%”.
“Hoje nós já estamos em Goiás, Mato Grosso, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Tocantins, Espírito Santo. Essa é a nossa área de atuação hoje. Nós estamos em 46 confinamento estabelecidos no Brasil e isso tudo surgiu por causa desse confinamento. O pessoal começou a visitar esse projeto, viu que era bacana, que a gente podia transformar o passivo em ativo e dava para fazer isso lá. Por exemplo, no Mato Grosso, nós temos vários projetos em andamento de agricultura utilizando 100% de adubação orgânica via esterco do confinamento, coisa que não era possível usando o esterco in natura, o esterco cru. Então a gente conseguiu através de muito estudo e muito cálculo chegar nesse ponto”, continuou Ronárcio.
“Ficou um processo bacana porque eu produzo fertilizante com o dejeto do boi e comecei a vender para agricultores fazendo a troca em milho, então o animal come milho, gera um dejeto, um passivo ambiental, eu faço ele virar uma coisa que tem valor, transforma em riqueza, e troco ele em milho novamente e ele volta para o confinamento. Milho que vira carne, carne que vira fertilizante, fertilizante que vira milho, milho que volta a virar carne. E a cadeia se fecha”, esclareceu Mário Pinto Junior.