Há duas posições principais na história que orientam a visão de mundo e de ser humano de indivíduos e projetos de sociedade: a visão restrita (identificada como direita ou conservadorismo) e a visão irrestrita (identificada como esquerda).
A visão restrita tem esse nome por acreditar que o ser humano nasce restrito (bruto), e precisa ser lapidado pela sociedade, com educação, valores, moral, família e busca por autoaperfeiçoamento constante. O progresso social ocorre com o acúmulo de pequenas conquistas, lentas e que vão sendo consolidadas com o tempo.
A visão irrestrita vê a condição humana como “fadada naturalmente ao sucesso”. O maior representante dessa visão é Jean Jacques Rousseau, para o qual o homem “nasce bom”, mas é corrompido pela sociedade. Na visão irrestrita, o passado é visto com desdém, como exemplo de “coisas que não deram certo”, em todas as categorias humanas. É algo a ser ‘superado’, mesmo que isso signifique destruir estruturas que foram sendo aperfeiçoadas ao longo de séculos ou milênios. Ainda que haja pontos positivos eles são “maculados” pela estrutura e devem estar errados.
Tendo isso em mente, podemos compreender que na mentalidade irrestrita o marginal é ‘bom e foi corrompido’. É por isso o discurso dele ser vítima da sociedade e a crença na “recuperação” ou reabilitação irrestrita. Qualquer que seja o crime e a intensidade dele, é sempre possível recuperar, pois há um dogma de que ele é bom e foi culpa de alguém que ele se tornou criminoso. A vítima real do crime foi apenas um ‘efeito colateral’, das leis, da economia, do “sistema”.
Na visão irrestrita a prisão geralmente é desnecessária e até prejudicial. Ela torna mais difícil ou impossível a recuperação ao “estado natural” daquele indivíduo. A punição, se existente, deveria ser branda e se aplicada corretamente iria reabilitar qualquer pessoa. Daí o atual ativismo judicial (termo usado pelo cientista social Thomas Sowell) seguir a linha irrestrita e cada vez mais observamos marginais que são presos pela polícia, e soltos por ordem judicial.
Já na visão restrita, a honestidade e as virtudes são aprendidas culturalmente e isso pode falhar (família, educação, moral, etc), e ainda podem haver algumas inclinações naturais (como demonstram os estudos de psicopatia) onde alguns indivíduos mesmo com um ‘reforço’ desse aprendizado tendem se desviar da conduta mínima. Dar-lhes facilidades e atenção extra será interpretado justamente como um reforço positivo à sua tendência violenta, expansiva, manipuladora e à busca de poder.
Na visão restrita a punição tem uma função de resposta e também educativa para todos os que não são criminosos. A resposta é para a sociedade e o indivíduo prejudicado (as vítimas reais), pois entende-se que a própria saúde social depende dessa resposta. Na visão restrita a ideia de existência de justiça como punição efetiva criminoso é tão essencial que sem ela o “fazer o correto e evitar o mal” começaria a perder o sentido, e a sociedade irá se degradar rapidamente.