"Quando um honesto governa, a cidade tem harmonia. Mas quando os corruptos dominam, o povo sofre" (Provérbios 29,2)
É preciso uma ponderação sobre a ideia de que “religião e política não se misturam”. É óbvio que o espaço público deve ser laico, mas também é fato que muitos governantes e legisladores são eleitos por deixarem clara sua identificação com princípios judaico-cristãos.
É comum candidatos a prefeitos e vereadores costumam dizerem-se submissos à “Autoridade Maior”, e sua ‘legislação’ que é a Bíblia. Costumam aparecer sorridentes em cultos ou missas e festas e eventos religiosos. A mensagem não deixa dúvida.
Biblicamente falando, não há dúvida que O Eterno distingue os bons dos maus governantes, e deixa claro que o destino de toda uma cidade tem relação com suas atitudes. E mais: que Ele observa especialmente os governantes: “Ai daquele que constrói fortuna usando de corrupção e meios ilícitos, que desvia os proventos [impostos] dos trabalhadores” (Jeremias 22, 13)
Por isso sempre me perguntei como pode haver tantos governantes e legisladores corruptos. Um político que se diz cristão, que participa de rituais religiosos e que ainda assim ENGANA O POVO, suborna e aceita suborno, que rouba em licitações ou que deveria fiscaliza-las mas não o faz, parece um zombador da cosmovisão judaico-cristã.
Não se trata de “moralidade particular”. O que cada um faz de sua vida íntima, seus erros e imperfeições nem entra aqui. Nisso não há ninguém perfeito. Mas assumir a responsabilidade de simplesmente “trabalhar sem roubar” milhares de pessoas (ainda mais ganhando mordomias e salários altíssimos!), e infringir essa única proibição (muitos, várias vezes, de forma continuada!), é coisa de quem realmente desdenha a existência de qualquer justiça Maior!
Um dos momentos mais interessantes da Bíblia sobre isso é quando Salomão diz: “Quando você ver a opressão do povo e a supressão da justiça, não se desespere, pois há um poder do Alto que a tudo está observando” (Eclesiastes 5, 7). E o próprio Salomão interpreta isso conforme temos na Tradição Oral que registrou seu comentário: “não fique atordoado, achando que D'us aprova essas coisas, ou mesmo que parece 'lento' em dar a devida retribuição, pois ela virá (...) Não se desespere pela aparente impunidade. Saiba que D’us vê o que eles tem feito, e fará justiça no seu próprio tempo”.
OBS.: nesse texto usei traduções diretas do Hebraico, à luz do Talmud, e das lições do Rashi e de Maimônides, sobre governo e o temor a D’us.