“A produtividade de um grupo e sua eficiência estão estreitamente relacionadas não somente com a competência de seus membros, mas, sobretudo com a solidariedade de suas relações interpessoais”. Kurt Lewin
Quando cheguei na cidade de Formosa, tinha um livro para terminar. Mas dava tempo de ter um outro emprego. Havia uma vaga em uma empresa para um cargo que, no mesmo mês, haviam passado três funcionários e nenhum ficou!
Quando entrei, fiquei curioso com o que acontecia. Achei o trabalho MUITO mais fácil do que imaginava. Abertura e fechamento de caixa, controle de estoque e inclusive atendimento aos clientes. Gostei logo no primeiro dia.
Só vi UM problema grande, e essa é a parte curiosa: a empresa tinha uma assessoria administrativa externa, mas ela era péssima! Um ‘administrador’ muito mal informado (e formado!).
Para se ter ideia, o setor operacional tinha um serviço puramente mecânico, muito bem desempenhado e que não causava NENHUM tipo do chamado “gargalo” (ponto de algum processo que emperra todos os demais). E o tal ‘administrador’ botou uma META para os colaboradores desse setor! Fiquei totalmente confuso: seria como colocar meta para o cobrador de ônibus! “Tem que entrar tantos passageiros aqui ou você perde o emprego”, a coisa mais absurda que já vi. Meta você coloca para vendedores, em especial externos, e serviços do tipo. Como ninguém via isso?
Para piorar, o tal administrador criou um clima horrível dentro da empresa, inclusive com funcionários experientes e muito competentes. Ele tinha conseguido gerar caos na ‘alma’ do negócio, aquilo que qualquer administrador competente sabe valorizar: os colaboradores (funcionários)!
Logo no fim do meu primeiro mês, chamei o dono (que gostava do meu trabalho e atendimento) para uma conversa, e fiz uma proposta: demita essa consultoria, me promova a gerente (inclusive na carteira de trabalho!), pague como extra para mim o que paga a ele, e eu prometo, com provas comparativas financeiras que dá para aumentar em 20% o lucro, logo no primeiro semestre!
Ele acreditou em mim, já tinha visto um pouco do que eu podia fazer, e assim aconteceu. A primeira coisa que fiz foi arrancar o papel com a tal meta de dentro do setor operacional, e iniciar um novo ciclo baseado num ambiente leve e gostoso de trabalhar. Não tinha mais aquela “espada sobre a cabeça” e muito menos aquele ambiente pesado. Mas havia um acordo claro: “vamos dar o melhor de nós!”.
Os entregadores conversavam com o setor operacional, riam, contavam piadas. Promovi uma forma de cortar REDUNDÂNCIAS desnecessárias de controle (que irritavam os clientes), ao mesmo tempo que melhorei o modo como as coisas eram registradas, além de passar para o meio eletrônico os demonstrativos financeiros, com gráficos, e algumas pequenas mudanças que permitiram às engrenagens ‘girar’ de forma lubrificada! Montei um cadastro de clientes em Accesss para registrar não apenas os endereços, mas também as PREFERÊNCIAS deles em relação aos produtos. O acesso era rapidíssimo, ao ouvir o nome eu já digitava e surgiam todos os dados, e eu me antecipava perguntando sobre o produto. Eles gostavam!
Na época eu sequer tinha graduação em Administração, nem MBA em Gestão de Projetos, mas minha experiência como gerente de projetos do Setor Público, aliado à vontade de MELHORAR o ambiente e meu trabalho me fizeram acertar.
Hoje, com mais experiência prática e formação na área, afirmo que o investimento na GESTÃO DE PESSOAS é algo capaz não só de melhorar a saúde financeira de uma empresa, mas de lhe conferir uma “alma”! De criar um círculo virtuoso interno, de motivação e entusiasmo, que se expande para os clientes. Um efeito de sinergia, que no fundo é o maior papel que se pode cumprir dentro de uma visão sistêmica ou Integral das coisas.
“Os colaboradores são parceiros da organização: capazes de conduzi-la à excelência e ao sucesso. Como parceiros, também fazem investimentos na organização, como esforço, dedicação, responsabilidade, comprometimento, riscos etc. – na expectativa de colher retornos desses investimentos, como salários, incentivos financeiros, crescimento profissional, carreira etc. Qualquer investimento somente se justifica quando traz um retorno razoável. (...) A motivação é o carro chefe para o alinhamento e o comprometimento. Para que a organização tenha empregados motivados ela precisa “vender” sua visão de negócio. O compromisso só acontece quando o empregado compartilha dessa visão e o crescimento da empresa significa o seu próprio crescimento. O instrumento por excelência para que isso aconteça é o Endomarketing”. (Saul Beking)
Sugestões de leitura:
BEKIN, Saul F. Endomarketing: como praticá-lo com sucesso. São Paulo. Ed. Person, 2004.
MENDES, Regina Stela Almeida Dias. Endomarketing como ferramenta de comunicação com o público interno. Universidade Federal de Juiz de Fora, 2004.
NASSAR, Paulo. Comunicação Interna – A força das empresas. Aberje Editorial, São Paulo, 2003.